terça-feira, 20 de setembro de 2011

Tempo de resgatar sonhos...




Quando somos crianças, pequeninos, nossas maiores aflições resumem-se, quase que basicamente, aos brinquedos, provas de Matemática (não menos cabulosas do que qualquer prova de Direito, a saber) ou de Geografia.
Nossos sonhos, hehe, são baseados em desenhos animados, como o Cavalo de Fogo, da Princesa Sara. Quantas vezes quis ter um chapéu daqueles (achava-o estiloso), e um portal, que se abrisse ao meu desejo, e por onde eu pudesse saltar com meu belo alazão de ébano, para um mundo 'melhor'. Descobrimos, no entanto, que tais portais não existem, ao menos não como víamos no desenho. Tampouco alazões dotados d'algum poder inexplicável. Rainhas Sarana, se existem, escondem-se. Diabolyn's, contudo ...
Brincamos de ser professor, médico, veterinário, arqueólogo. - Advogada não! -dizia eu, mui segura. hahaha, mal sabia pelo que me apaixonaria em dias vindouros...
Enquanto minhas amigas/colegas estavam a 'curtir' a vida, conhecendo garotos, competindo no número de conquistas, enfurnava-me em meu quarto, cercada de livros. Muitos. Todos que pudesse ler. Era o meu portal. Lembro-me de ter ido à Cornuália, ao ler Tristão e Isolda; de ter sentido o aroma dos cedros do Líbano ao ler Kalil Gibran; caminhei pela praia, ao ler ‘O carteiro e o poeta’ de Pablo Neruda, dentre tantos outros.
Agradeço sobremodo pelo que as páginas aladas - na falta d'um 'Cavalo de Fogo' - propiciaram-me. O que aprendi, e disso estou certa, não me será tirado, tampouco esquecido.
Mas, ao contrário da Terra do Nunca, e por isso se torna compreensível o anseio de Peter Pan, o tempo passa. 'Inexoravelmente', como diria o narrador do Chapolin, no episódio da Branca de Neve – feliz de quem lembra...
E, meio que sem querer, e, por vezes, sem perceber, deixamos de ser meninos, chegamos a ser adultos, mas nem sempre iguais ao que sonhávamos quando pequenos.
Nada mais de portais mágicos, cavalos de fogo, rainhas Sarana, ou qualquer coisa que o valha. Há que se trabalhar, há que se estudar com afinco, há que se deixar de lado coisas de menino, e buscar as coisas de 'gente grande'.
Mas, por quê? Não seria possível manter algo do tempo de criança? A esperança, a confiança, o entusiasmo... penso serem estes, elementos fundamentais à vida de 'adulto'.
Quão cinza se torna a vida de quem já não vê mais as cores, nem sente os cheiros da infância, que, por mais dolorosa, difícil ou cruel que possa ter sido, ainda assim, trouxe consigo traços de nosso caráter de hoje.
Também alguns sonhos, trazidos ali, em meio à bagagem, enrolados n'alguma decepção, amassados tal qual mangas d'uma blusa que se desdobrou, atando-se a alguns 'nãos', quando desfeita a mala, poderão dar novamente motivação.
Eis aí o tempo de abrir a mala, antes fechada pelo limite do que meus olhos podiam ver. Contida pelo que é possível, pelo que é palpável.
Decidi que quero de volta os sonhos que eu mesma deixei de lado. Não os envilecerei, tornando-os desprezíveis, nem deixarei que o façam. Não com os meus sonhos. Cada um dê a cor que quiser aos seus próprios. Eu, preferi usar a paleta de tintas do Dono das Estrelas.
-'Coisa de criança!' - sentenciaria algum ser provido d'uma bela catarata ou miopia.
-Pois que seja criança então.
Com toda a sinceridade que lhes é típica digo, melhor, afirmo: os dias são deveras mais belos e cheirosos quando se sonha. O sol aquece mais, os pássaros cantam mais afinados (se é que isso é possível), o dia fica efetivamente mais agradável, a lua brilha mais, e o céu? Parece sempre ter mais estrelas a cravejar-lhe o, nem sempre límpido, veludo azul...
O sorriso é mais franco, a alegria, ahh, essa é, certamente, mais genuína, por menor que aparente ser o motivo.
Tudo por causa d'alguns sonhos recuperados.
Achei meu portal. Falta-me o chapéu, contudo. Mas não mais o alazão de ébano... Diabolyns? Não me farão tremer os joelhos.
Por quê? Porque disseram-me na canção:

"Que um dia rainha eu seria
Se com a maldade pudesse acabar, e,
No mundo dos sonhos, pudesse chegar..."

Acreditei, oras!

Valmiriane Boschetti
20/09/11